Localização
A freguesia de Melides, a segunda maior do concelho, localiza-se na faixa litoral, a 5 km do Oceano Atlântico e nas imediações da lagoa do mesmo nome.
Caraterísticas
A nível climático enquadra-se no tipo temperado - continental mediterrânico apresentando verões quentes e Invernos frios, com ocorrência de geadas, e pluviosidade pouco elevada e irregular.
Do ponto de vista do relevo apresenta duas zonas distintas: - no litoral predominam as charnecas, de reduzida fertilidade, ocupadas por pinhais e eucaliptais, e entrecortadas por duas várzeas de apetência agrícola - Fontainhas e Melides, onde abunda o cultivo do arroz; - na restante área predomina a serra, ocupada por montados de sobro e algum pinhal, sobretudo manso.
A população de Melides encontra-se distribuída pelos três sectores de actividade sendo, contudo, verdade que a geração mais velha encontra ainda nos proventos retirados dos campos (agricultura, pecuária e silvicultura), o principal meio de subsistência.
No verão as praias enchem-se de turistas que dão relevante contributo à economia da freguesia. Nas últimas duas décadas tem-se, igualmente, verificado por parte de famílias oriundas das cidades, em particular de Lisboa, a aquisição de terrenos para construção de segunda habitação e arrendamento de montes para o mesmo fim.
Com a concretização de alguns empreendimentos turísticos que se esperam para a costa prevê-se que, num futuro próximo, a população se dedique, fundamentalmente, a actividades relacionadas com o turismo e que este seja o principal móbil do desenvolvimento da freguesia.
História
Os primeiros dados conhecidos sobre o passado de Melides remontam ao séc. XV. Por um lado existem, na Chancelaria da Ordem de Santiago, alguns documentos relativos à igreja de Santa Marinha, datados dos primeiros anos desse século. Por outro sabemos que, junto à mesma, existia um porto piscatório, sendo a barra navegável, para embarcações de reduzido calado, até à ponte sobre a ribeira, conhecida por Ponte de Ferro.
Fernão Mendes Pinto, na sua obra Peregrinação, refere-se à praia de Melides relativamente ao ano de 1523, contando que foi numa noite ali largado por corsários franceses, que haviam abalroado a nau em que seguia para Setúbal.
A aldeia de Melides deve ter surgido como um pequeno aglomerado de pescadores/agricultores que, gradualmente, terão concentrado as suas habitações, antes dispersas. A ligação económica destes à barra, parece-nos indubitável e o primeiro oráculo, Santa Marinha, é disso prova. Segundo o padre António de Macedo e Silva na sua obra Anais do Município de Santiago do Cacém (1869), a paróquia de Melides terá sido erigida entre o final do século XV e o início do XVI.
O seu topónimo poderá ter origem no latim militi (militar) e, como curiosidade, há a referir a existência de duas povoações denominadas Melide, situando-se uma em Espanha, na Galiza, e outra na Suíça, junto ao lago Lugano.
Tendo a barra assoreado, na segunda metade do século XVII, os habitantes de Melides, cujo número aumentou progressivamente, dedicaram-se, fundamentalmente, ao cultivo da terra e actividades artesanais, como sejam a olaria e a feitura de rolhas de cortiça.
No séc. XVIII, pelo facto da igreja de Santa Marinha ser pequena e estar localizada fora do povoado, foi construída a igreja de São Pedro, que havia sido, primitivamente, uma ermida da mesma invocação.
Aquando das invasões perpetradas por Bonaparte, chegaram a encontrar-se em Melides 1500 homens em armas, tendo sido a aldeia um ponto estratégico na defesa avançada de Santiago do Cacem.
Até 1855 a freguesia pertenceu, ininterruptamente, ao concelho de Santiago do Cacem. Depois de duas reformas administrativas e de diversos problemas que a questão suscitou no meio local, passou a integrar o concelho de Grândola em 1895.
No século XIX habitaram em Melides famílias decerto lustre, como sejam os Carrilhos, Costas Silvas e Sabidos, das quais podem ser vistos alguns mausoléus no cemitério de Santa Marinha e uma campa epigrafada na capela-mor da igreja de São Pedro.
Património
No âmbito do património natural salientam-se, pela importância dos habitats que constituem, a Lagoa de Melides, a orla costeira e os montados de sobro.
No que concerne ao património cultural e edificado há que referir, antes de mais, que em Melides abundam vestígios arqueológicos de diversos períodos históricos. Pelo interesse que revelam refiram-se os seguintes: - Dólmen da Pedra Branca – Herdade do Montum (Vale Figueira): enterramentos coletivos. Constituído por uma câmara e galeria e datado do período Calcolítico. Encontra-se classificado como património de Interesse Público; - Necrópole de cistas das Casas Velhas – Herdade das Casas Velhas (Vale Figueira): necrópole destinada a enterramentos individuais, composta por cistas da Idade do Bronze (cerca de 3000 anos). Encontra-se classificado como imóvel de Interesse Público.
São ainda aconselhadas as seguintes visitas: - núcleo urbano antigo da aldeia, onde se observam alguns imóveis dos séculos XVIII e XIX, com janelas de sacada e varandas de ferro forjado; - ruínas da igreja de Santa Marinha (finais do séc. XV – inícios do XVI), onde são ainda visíveis botaréus de invulgar dimensão; - igreja de São Pedro (sécs. XVII – XVIII) que, tendo sido alvo de um atentado ao património na década de setenta do século passado, conserva ainda alguns elementos de interesse, como sejam o tecto em abóbada da capela-mor, um lavabo em pedra, na sacristia, ostentando a cruz da Ordem de Santiago e imaginária coeva; - Olaria em actividade (contexto museológico e marcações para visitas de grupos na Câmara Municipal), sendo digno de registo o forno, de características tipicamente romanas; - conjunto molinológico da Boavista (moinhos de vento), de onde se desfruta uma vastíssima paisagem; - Fonte dos Olhos (Parque de Merendas). Trata-se de uma copiosa nascente que abastece de água a aldeia e parte da freguesia, sendo a sua envolvente muito aprazível.
Artesanato: olaria, mantas de lã e retalhos e rendas.
Gastronomia: ensopado de enguias, ensopado de borrego, miolos com carne de porco frita e açordas diversas (de alho, de batata, de espinafres, de poejos, de tomate, de beldroegas …).
Poesia popular: antigamente eram vários os autores de quadras de décimas, género popular característico da região. Depois de alguns anos no esquecimento esta poesia, espelho das vivências e saberes do povo, tem sido alvo de alguma atenção. Um dos seus maiores cultores foi José Pereira Candeias.