A igreja de Santa Marinha, primeira paroquial da freguesia, encontra-se intrinsecamente ligada ao surgimento da povoação assumindo-se, assim, como uma das principais representações históricas da freguesia.
Situada na proximidade da Barra de Melides, navegável por barcos de pequeno calado, até às imediações da ponte de ferro, até cerca de 1640, a escolha do seu orago demonstra bem a importância que o mar e a barra, e consequentemente a pesca, tiveram para os primeiros melidenses. Pelo menos na 2ª metade do século XV, já existiria ali uma pequena comunidade, que economicamente se dedicaria fundamentalmente a atividades relacionadas com a existência da barra, organizada em povoamento mais ou menos disperso, talvez habitando cabanas de colmo ou pequenas casas de alvenaria. Como o fenómeno religioso era incontornável e era necessário dar um enquadramento institucional mais preciso ao grupo, terá surgido a necessidade de se erguer a igreja e criar a paróquia.
Deste modo, sabemos pela Chancelaria da Ordem de Santiago, Ordem Militar que tinha jurisdição sobre o território, que nos primeiros anos do século XVI, a igreja já estava edificada, dispondo de sacerdote, que naturalmente era freire professo da referida Ordem, bem como de ermitão, que assegurava, entre outras coisas, a conservação do templo.
A população local aumentou gradualmente mas o assoreamento da barra terá provocado uma situação complicada. Se por um lado, a pesca se deslocalizou para a lagoa propriamente dita, por outro os terrenos da várzea, com o abaixamento das águas, ficaram dotados de charcos e lodaçais extremamente perniciosos para a saúde pública, fazendo aumentar as endemias provocadas pelas febres palustres.
Dadas as circunstâncias, os moradores procuraram um local mais saudável para viverem e optaram pela encosta que corresponde à zona tradicional da aldeia, onde se respirava ar puro, nas proximidades de bons terrenos agrícolas e podendo continuar a beneficiar do manancial de água que é a Fonte dos Olhos. Neste sentido, verificou-se a necessidade da construção de um novo templo e os irmãos da Mordomia do Apóstolo São Pedro obtiveram provisão para erguerem, à sua custa hipotecando se preciso fosse uma propriedade livre, uma ermida votada ao seu patrono – São Pedro. Foi assim, que ainda na 2ª metade do século XVII, surgiu a ermida de São Pedro, continuando, contudo, Santa Marinha a servir de paroquial. O crescimento demográfico e o desenvolvimento da aldeia, nas imediações da ermida de São Pedro, levaram a que, algumas décadas passadas (século XVIII), se tivessem executado obras de ampliação da ermida que passou a igreja paroquial, remetendo-se Santa Marinha à condição de igreja anexa ou ermida.
No entanto, a devoção à senhora Santa Marinha continuou e o templo ainda estava afeto ao culto no final do século XIX/início do XX. Não obstante, a sua degradação era já visível em meados do século XIX, tendo um abastado lavrador local efetuado um legado testamentário para a sua recuperação. Creio que o templo terá sido danificado aquando do sismo de 1858 que também quase deitou abaixo a igreja de São Pedro.
Na primeira metade do século XX a antiga igreja de Santa Marinha foi gradualmente votada ao abandono. O telhado ruiu, foram retiradas as imagens (que estão em São Pedro), roubaram o sino do campanário e a pia baptismal de estilo manuelino. A bênção do gado continuou por alguns anos, a realizar-se em seu redor (festa de São Luís) mas, por fim transitou para outro lugar e… acabou por desaparecer.
As ruinas de Santa Marinha de Melides condensam todo o passado da comunidade e constituem, ainda assim, um dos mais representativos valores patrimoniais da terra.
Informações cedidas pelo Setor de Museu e Património Cultural da C.M.G.
